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Chefes da Polícia Judiciária presos

Suspeitos de receberem luvas de traficantes. Veja os vídeos.
Henrique Machado e Sérgio A. Vitorino 5 de Abril de 2016 às 11:56
Ricardo Macedo, inspetor-chefe da PJ, e Dias Santos, coordenador reformado
Ricardo Macedo, inspetor-chefe da PJ, e Dias Santos, coordenador reformado FOTO: Pedro Catarino
Ricardo Macedo e Dias Santos, respetivamente inspetor-chefe no ativo e coordenador já reformado, dois quadros históricos do combate ao tráfico de droga da Polícia Judiciária, foram esta manhã detidos numa megaoperação da própria PJ, sob suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais, pelo recebimento de luvas de importantes redes de tráfico, para fornecerem informações privilegiadas e criarem manobras de diversão, dentro da própria PJ, que permitiram a entrada de grandes quantidades de cocaína em Portugal nos últimos anos, escapando assim ao controlo policial. Há ligações, apurou o CM, a um dos mais importantes cartéis de droga da América do Sul.

Na megaoperação ‘Aquiles’ foram detidos um total de 15 homens, com idades compreendidas entre os 39 e os 61 anos, a grande maioria por tráfico de droga com ligações aos dois polícias. A investigação tem mais de dois anos e é conduzida pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, em articulação com os procuradores Vítor Magalhães e João Melo, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.

A investigação teve início após uma denúncia chegada ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). A mesma revelava o alegado desaparecimento de um carregamento de centenas de quilos de cocaína de um contentor descarregado no porto de Sines, no verão de 2013. Na mesma altura foi apreendida no porto de Lisboa uma carga de 811 quilos de cocaína. Mas aos mesmos suspeitos terão desaparecido 500 quilos da mesma droga, que foram depois apreendidos na Grécia em circunstâncias por esclarecer. Em ambos os casos, os suspeitos terão referido em escutas os nomes de Ricardo Macedo e Dias Santos como destinatários do pagamento de dezenas de milhares de euros para impedir novas apreensões e localizar a droga desaparecida. A investigação, no entanto, estendeu-se a mais de três dezenas de inspetores do combate à droga na PJ. Muitos afirmaram saber estar sob escuta e serem seguidos por colegas do combate à corrupção.

Carlos Dias Santos reformou-se da PJ em 2011, após 34 anos de serviço. Notabilizou-se como coordenador no combate à droga. Por exemplo: as suas equipas detiveram por duas vezes Franquelim Pereira Lobo, considerado o maior traficante de droga português. Terá apreendido, entre 2003 e 2008, 37 toneladas de haxixe, nove de cocaína, 221 quilos de heroína e cerca de 12 milhões de euros pertença de redes de traficantes. Esteve nessas funções até setembro de 2008. Foi afastado pela direcção nacional da PJ para o banditismo (crime violento) após uma denúncia interna de irregularidades. Já afastado do combate à droga, foi galardoado com uma cruz de mérito pelo Guardia Civil – precisamente pelo trabalho contra o tráfico. Acabou por se reformar na Direção Central de Combate ao Banditismo (DCCB), atual Unidade Nacional de Contra Terrorismo.

Casas alvo de buscas
Já Ricardo Macedo, fez também quase toda a carreira na antiga Direção Central de Investigação ao Tráfico de Estupefacientes (DCITE), atual Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes. Foi detido esta manhã ao chegar ao local de trabalho, nas instalações da PJ. Apesar de ser inspector-chefe tinha funções de coordenação de seção, devido à falta de coordenadores existente na PJ.
As habitações do ex-coordenador e do inspector chefe foram alvo de buscas na manhã desta terça-feira. No total, a operação "Aquiles" mobilizou quase duas centenas e meia de elementos da Polícia Judiciária, bem como Magistrados Judiciais e do Ministério Público, tendo sido realizadas cerca de cento e vinte buscas, domiciliárias e não domiciliárias, em todo o território nacional.

Os detidos irão ser presentes a primeiro interrogatório judicial para aplicação das medidas de coação.

A investigação, segundo a PJ, vai prosseguir com vista à recolha de mais provas.

O último escândalo a atingir o departamento da PJ responsável pelo combate ao tráfico de droga ocorreu em 2007: a coordenadora Ana Paula Matos foi investigada e detida, mais tarde, por ter desviado 94 mil euros de apreensões a traficantes. Acabou condenada a 7 anos e encontra-se detida no Brasil a aguardar a extradição.
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